24/03/2010

Sobre o autoritarismo do ilustre governador

Em reflexão em cima desse artigo do Viomundo.

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Esse autoritarismo crescente do governo de São Paulo, junto com a postura cada vez mais agressiva e manipuladora da mídia, me preocupam. O mais grave é que independente de qualquer repercussão popular, tanto o governador, quanto a grande mídia continuam a ignorar as denúncias que lhes são apresentadas. Agem como se tudo estivesse em ordem, e propagam justamente essa imagem nos meios de comunicação tradicionais.

Mas e quando começar a corrida eleitoral, e Serra tiver que ir ao ar em cadeia nacional se confrontar com os dados que até aqui ignorou? O mais grave é que a carta da mentira, que deveria estar nas mãos do PT, já foi lançada pela oposição, contra a candidata do governo. Assim, Serra tem a vantagem no jogo da "minha palavra contra a dela", pelo menos no que diz respeito às versões dos grandes jornais. Se essa for mesmo a tática do PSDB, insistir num cenário fantasia da exemplar administração paulista, e no suposto caráter mentiroso da candidata adversária, teremos um excelente meio de medir a autonomia de pensamento do brasileiro. Será que ainda somos reféns da política publicitária da mídia?

Me remete ao clássico pleito norte-americano, Nixon x Kennedy, que para muitos marca o início da campanha eleitoral midiatizada. Só que aqui o cenário se inverte em vários sentidos. O queridinho da mídia é o candidato com cara de zumbi, que dificilmente chegará ao nível de idealização alcançado pela imagem construída em cima de Kennedy. Do lado oposto à indústria publicitário-midiática, em vez da figura decandente, séria e envelhecida de um político conservador, a ministra Dilma, com um sorriso digno de seu antecessor, e com propostas que olham pra frente.

E se na imagem os papéis se invertem, no contexto geral não é diferente. O caso americano marcou a espetacular consolidação do poder político dos grandes impérios midiáticos, no cerne da então maior nação do planeta. Já a eleição brasileira vem acompanhada de toda uma simbologia que fecha esse mesmo ciclo: a mídia lutando com todas as forças para eleger seu candidato, que não mais representa o progresso e a democracia, mas a estagnação, a falta de debate e o autoritarismo ideológico dos quais ela própria tornou-se símbolo maior. E isso no país que vem ganhando cada vez mais destaque internacional como promissora potência econômica, e indiscutível mediador global, pregador do debate pacífico e conciliatório.

É como se tudo indicasse o fim de uma era. Mas esses são os símbolos para os quais eu estou dando destaque, e que formam a minha interpretação do momento. Que será que pensa o governador? Vive ele próprio no seu mundo fantasia? Ou teria ele uma percepção de fato mais aguçada que a minha, que o colocaria em posição de vantagem nessa loucura presente?

Voltando à minha interpretação, não creio, dadas as circustâncias, que o governador possa se ver numa posição vantajosa, independente do ângulo que se olhe o tabuleiro. Isso, é claro, se estivermos os dois refletindo em cima das mesmas regras: uma corrida eleitoral dentro de um sistema democrático. E é aí que preocupam, tanto o caráter autoritário do governador, quanto os olhos direcionais da grande mídia.

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