23/04/2010

Shall we?

Acho que descobri o que me incomoda nesses gigantescos movimentos sociais. Não que me passem como desnecessários, quixotescos. Mas tudo que há é passível de análise, ao menos para que se busque formas cada vez mais eficientes para aquilo que já consolidamos até aqui. E me incomoda justamente a ineficiência generalizada das mobilizações. Milhões numa passeata, e nada realmente vai pra frente. Reinvidicações assinadas por um sem número de pessoas reais, em encontros reais, vivendo e vendo movimentos concretos, são meio lidas e sumariamente ignoradas numa só canetada. É como se a luta fosse ainda pelo reconhecimento, e não pelas mudanças. Ainda parece necessário lidar com essa máquina social que ignora as manifestações populares, para que só depois se busque o que elas de fato reinvidicam.

Ponha-se assim, lutamos por mudanças, por um modelo alternativo, por um outro mundo. Juntamos nossas idéias e batemos a porta daquele mundo velho, apontando sonhos e desenhos distantes de um futuro que poderia ser. Pedimos, pois, ao velho fazendeiro, que se proponha a dividir suas terras com essa gente sofrida, que viva em pé de igualdade com aqueles que sempre viu de cima. Pedimos à bancarrota do júri popular, que se desprenda do certo, e apoie uma causa que lhes é distante e irreal. Temos idéias mil, e infinitas mãos, pés e cabeças que vivem, muitas vezes não por escolha, à mercê dessa luta pela própria relevância, pelo reconhecimento de sua própria vida e anseios.

E o caso é que não dá. Acho que chega de ficar esperando o aval de um mundo velho, pra que pensemos juntos um mundo novo. No minimo porque o velho nao conhece outra forma de viver, e o novo que por ventura se dispuser a criar estará sempre pautado pelas linhas mestras daquele passado entendivel. Mas o que eles entendem nao é a fome do povo, não é o frio, o medo, a luta. São modelos teóricos, números, sociedades passadas analisadas. Personagens já mortos, dos quais de fato a dor e a vida já não importam, transportados pro presente, pra que se possa entender, sob uma confortável distância histórica artificial, os personagens e acontecimentos do mundo hoje.

O caso é que hoje não existem personagens, existem pessoas. Somos reais, e disso ninguém entende. Cada um entende por si seu próprio valor. Não devemos mais buscar o reconhecimento alheio. O outro é sempre objeto de análise, não sabemos de fato da sua dor. Se queremos um mundo novo, construamos, e cheguemos às portas do antigo inferno com uma máquina pulsante de puro ineditismo histórico. Não esperemos que nos dêem as mãos, ou que peguem ao nosso lado no cimento e nos tijolos. Esperaríamos, com toda sinceridade, e morreríamos de fome no eterno adiamento, nos planejamentos sem fim dos que nunca pretenderam colocar nada em prática. Dos que continuaram, a vida toda, tentando achar uma saída confortável, buscando nada além de meios para não abandonar.

3 comentários:

  1. guri,

    se liga nisso:
    http://www.youtube.com/watch?v=tdYF5gZckmk

    Los Indios Tabajaras...

    Olha o que é o Nato tocando classicas no violão..

    bjo

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  2. Então... acho complicado.
    "Acho que chega de ficar esperando o aval de um mundo velho, pra que pensemos juntos um mundo novo. No minimo porque o velho nao conhece outra forma de viver, e o novo que por ventura se dispuser a criar estará sempre pautado pelas linhas mestras daquele passado entendivel."

    A proposta é construir um mundo novo? Mas este mundo novo excluirá o "velho"? A proposta é um mundo alternativo, isolado? Nada surge do nada. É preciso lidar com o tradicional, sim. É preciso sempre se lidar com as diferenças! Mesmo que elas pareçam absurdas para você, elas vão continuar existindo (eu acho).

    Não acho que seja uma questão de esperar o aval. Eu acho mesmo que seja uma questão de reconhecimento! Reconhecimento no sentido de compreender que são pessoas reais, causas reais.

    Reconhecimento e imposição, pois esse lance de fazer-se compreensível tem um grande jogo de poder que não pode esperar aprovação. As causas são imediatas; vivemos a diferença. A questão é submeter-se ao tradicional ou não- neste caso, afirmar pelo menos seu espaço.

    Reconhecimento e imposição parece entrar na dicotomia dominação(autoridade) ou poder.

    À la Weber, Poder estaria ligado à capacidade de induzir ou influenciar o comportamento de outra pessoa. Neste sentido, o poder seria algo como "lei do mais forte"; a capacidade nada tem a ver com a aceitação.

    Dominação (ou Autoridade) seria a oportunidade de encontrar obediência. Assim, este tipo de relação envolveria uma influência no dominado, mas este, de alguma forma permitiria a situação por reconhecer como legítima a ação do dominador.

    Então a questão de se lidar com as diferenças e de se construir um mundo novo é a seguinte: o que fazer com os discordantes? Submetê-los à sua lógica e inverter a polaridade de poder ou criar uma relação que permita inclui-los, sob o respaldo de seu reconhecimento?

    Mas eu não sei se isso é possível para todas as situações... talvez algumas divergências necessariamente exijam a exclusão de seu oposto =P.

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