14/03/2010

Ensaio de um Reflexão Exagerada

E o sistema de ensino? Cenário de ficção científica. Pretende-se padronizar as mentes que passam pelas escolas. Os filhos da elite têm suas cabeças diariamente bombardeadas por conteúdo do mais diverso, fora de contexto e potencialmente inútil. “Hoje não se vive sem saber um pouco de tudo. São outros tempos.” É o discurso de uma “self-important” classe social que repudia todo tipo de trabalho físico. Já as escolas públicas são mantidas num nível mínimo. “Se tomam gosto por pensar, quem é que vai trabalhar nesse país?”, disse o ministro da educação, numa de suas esporádicas visitas ao seu gabinete.

“It's our own brave new world”, diz o poeta, mas as palavras se perdem na cacofonia de uma esquina movimentada. Somos sim, numerados, registrados e controlados por toda nossa vida. Ou pelo menos é o que se espera de nós; nada mais. E a que preço?

Do lado de cá, um batalhão de adolescentes desconfortáveis dentro de uma sala de aula, que nunca chegam a saber o que realmente se espera deles. (Quão absurdo é querer padronizar o processo de aprendizado de um mecanismo tão complexo quanto o cérebro humano? Resultado de um mundo regido por burocratas: é a era do gerenciamento de pessoas. Gerenciamento de pessoas, há!, melhor fechar os parenteses). Desde cedo diagnosticamos crianças com “déficit de atenção”. Os pais se preocupam, “Imagine se ele tem que virar lixeiro”. Aulas de reforço, horas de estudo, psicológos, remédios (?!?!), e não se acha o suposto problema. “O garoto não quer saber de estudar”, “Tudo bem querida, a gente paga o diploma e eu coloco ele pra fazer algo na empresa”.

Do lado de lá, dessa tênue linha imaginária que a nós parece uma muralha, milhões de mentes humanas artificialmente isoladas dum tal “mundo intelectual”. Quantos pensadores brilhantes em potencial passam a vida trabalhando como semi-escravos no imenso interior desse país? Ou morrem de fome numa favela do outro lado da cidade?

E se o drama lá é concreto, palpável, aqui é psicológico. Ousaria dizer “real” e “imaginário”? Acho que não chego a tanto. Parece que tomamos verdadeiro nojo do mundo a nossa volta, até nossos momentos mais desesperadores decorrem de nossas reflexões, “all in our heads”. O que acontece quando nos deparamos com desafios físicos reais e inevitáveis? Quando somos forçados pra fora da apatia, sem possibilidade de mergulharmos de volta no ópio intelectual de nosso tempo? Can we take it? Can I?

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