11/10/2010

Em tempo, um brinde

Vivi o que era belo
em manhãs de pouco sol
Sorri com teus castelos
quando o frio me fez sofrer

Em meus meses de derrotas solitárias,
reergui-me com teus cantos de batalha

Foste a primeira que enxerguei maravilhado
a domar monstros que viria achar em mim
É certo que nem sempre vencedora
mas da caça, uma eterna caçadora

Acorrentados junto ao mundo submerso
me roíam sem que a dor se convertesse
em terra firme onde houvesse o que caçar

Mas de tudo me valeu saber que os mares
que eu por entre as calmarias mapeava
não eram de todo selvagens,
mas apenas inéditos àquele meu olhar

;

No meu trato com as marés desse oceano
Lembro às vezes de sonhadas não-viagens
E das vezes que eu deixei você passar

Em meu delírio a refratar tua luz de sonho
Tantas vezes quanto quis me ver imagem
Em teus cantos, em teus versos
Em teu turvo espelho d'água

Por tudo aquilo que eu tentasse
Nada teu pôde lembrar-me
Traço algum da minha face

Ignorava que a vontade curiosa
Não achada, indeclarada e duvidosa
Não era mais dos meus amores inventados
Senão de fato uma janela em contratempo

;

Se finalmente vejo olhos meus me olharem
dos teus murais de águas já um tanto mais claras
Não deixa de tomar-me essa surpresa
ao ver que a ti,
figura eterna de um passado tão presente,
possa eu ser qualquer imagem na qual valha se inspirar

Não raro inspiram-nos idéias,
surgidas firmes sobre os nossos sonhos vãos
Se não quis eu jogar com a tua farsa,
não foi em prol dalgum meu mundo menos falso

Talvez o tempo cure a falta do instinto
e mostre certo o não-encontro num momento
no qual dois mundos construídos sobre areia
ameaçavam com tal força se encontrar
erguendo torres sobre pedra imaginária
das tantas dores espalhadas pelo vento

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