Como Marxista de berço, não posso deixar de notar as relações entre os momentos revolucionários da História e as inovações tecnológicas que os acompanham. De certo a Revolução Burguesa, alimentada pelos sonhos libertários dos Iluministas, não seria possível sem certos avanços técnicos como a Imprensa, catalisadora da difusão de idéias, ou a própria Indústria, principal responsável pela ascensão da classe empresarial. Mas o que quero atentar nesses poucos parágrafos é ao descompasso entre as idéias e a realidade objetiva revolucionária, chamando atenção ao papel do pensador em meio a tal convulsão social, e à sua inevitável desilusão, que surge talvez do descompasso entre a liberdade dos sonhos possíveis e o fundo concreto que alimenta a Revolução em curso.
Nada mais emblemático de tal fracasso da teoria que a sociedade burguesa atual, tão distoante dos ideais iluministas de uma Humanidade guiada pela razão e pela igualdade.
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A questão Revolucionária surge de mudanças na base produtiva da sociedade, mas desperta no pensador crítico uma liberdade de devaneio. A possibilidade de mudança leva o teórico a mapear a Utopia, sem fincar-lhe pilastras na lógica das transformações em curso. Assim, a teoria tenta entender uma possibilidade humana ideal, e não a realidade iminente. O teórico, por mais científico que se queira afirmar, torna-se assim um poeta de causas perdidas. E digo isso não para pregar o fim da ciência social, ou o pessimismo, mas a retomada da poesia.
A proposta utópica é fundamental, e ganha tal força nos momentos revolucionários que é nessa hora que deve ser explorada ao extremo. O problema surge quando da poesia se tenta fazer proposta política, e não alimentar o Homem subjetivo. Assim, o poeta deve ser cientista, e o cientista fazer-se poeta, afim de que ambos entendam sua interdependência.
Não há erro em cantar a sociedade ideal, mas em acreditar que estejamos de fato construindo-a nesse momento. Existe a Utopia para que possamos continuar a caminhar. Mas se não fincamos pés no chão caímos no erro Iluminista, e damos à etapa que inaugurarmos caráter definitivo, como fosse o apogeu da Igualdade Humana. Desse tipo de crença surgem as ideologias mais perversas, que hoje tanto combatemos.
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Não entendo ainda qual a força produtiva por trás da Revolução que se desenha. Inevitavelmente me vem à mente o proletariado. Mas qual inovação material lhe daria forças para esse enfrentamento? A internet talvez preste o serviço que ora prestou a Imprensa aos burgueses, mas me escapa ainda a condição objetiva que nos levará ao enfrentamento. De certo ela já está dada, e deve contrapor-se ao modo de organização Financeiro-Global. Sem uma forma eficaz e concreta de organização, caímos no erro vazio de pedir o fim do que é sem ter o contraponto para nos dar força material.
Me parece que a atual batalha pela liberdade virtual inicia um ciclo interessante. Ainda lutamos pelo direito à banalidade da qual usufruímos, redes sociais, filmes e músicas de graça. Mas com todas as luzes voltadas ao palco da internet, a rede tem grandes chances de finalmente provar-se ferramenta eficaz de organização paralela. Mas faltam peças do quebra-cabeça, o que ainda torna difícil a atuação política eficaz.
Pícaro Dias
2012
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