"Dizem que os tricksters, os Lokis e os viajantes do mundo andam como que por cima da corda bamba, sem assumir um lado, sem escolher uma forma definida, vivendo entre o paradoxo e o mutável. Mas às vezes, por acidente, eles caem dentro da beleza. E por vezes constroem um eu, com começo, meio, fim e História. Mas no fundo sua natureza nunca vai ficar parada, e eles subirão novamente na corda, para continuar procurando."
Isso é um pedaço de um comentário do Charles, a essa resposta que dei a um texto dele.
Tenho que dizer que quando li me identifiquei muito com essa descrição. Inclusive, já há algum tempo, me veio a imagem de um personagem indefinido, em constante mutação. No exato momento em que ele ou alguém conseguem definí-lo, enxergá-lo com clareza, ele muda, se transforma, mergulha de novo no inconstante, no disforme. Esses personagens que simplesmente me vêm à mente, já prontos, como que se revelassem pra mim, costumam se mostrar, com o tempo, meros entendimentos de minha própria condição, de minha própria pessoa. Esse eu demorei pra conseguir aceitar, mas logo compreendi, e me deixei concluir algumas das coisas que coloquei no texto Pedaços ao Vento.
Lendo essa descrição sobre os tricksters fiquei curioso e fui atrás de mais na internet. De fato, eu tenho uma tendência grande nesse sentido da não permanência. Mas isso me faz pensar muito nas pessoas que eu acabo abandonando. Tem uma coisa em mim que sabe que deixar um contexto agora e ir buscar um novo começo, uma nova História, não fecha as portas, lá na frente, para novos contextos com aqueles mesmos personagens.
Mas me dói, e não sei se é por eu me apegar muito às pessoas, às tramas e às lembranças das pequenas coisas, ou se é pela sensação de que sou eu que as abandono. A sensação insuportável de que no fundo eu não dependo delas, não preciso delas. De certa forma essa interpretação me coloca como alguém que se aproveita dos enredos enquanto eles lhe forem úteis e produtivos, e os deixa, sem mais, no momento em que já não o são.
Fosse realmente assim, acho que não seria tão difícil os momento de ruptura. Não seriam tão importantes as memórias, nem seriam tão grandes as esperanças do reencontro. Não sei como classificar esse meu comportamento. Queria acreditar que se baseia não no abandono, mas na tentativa de tirar o melhor de todo mundo que eu encontro, e buscar em outras fontes as soluções quando isso já não é possível.
Hoje eu me vejo caindo de novo "dentro da beleza", construindo um começo. É reconfortante, é estimulante. É um pouco como nascer de novo, com a oportunidade de ser olhado por novos olhos ao mesmo tempo em que se enxerga novas caras. Inclusive tenho tido a oportunidade de reencontrar alguns rostos aos quais há muito não prestava atenção.
Mas me vem um leve incômodo, por saber que lá na frente há de existir um novo ponto de ruptura. Espero conseguir lidar com ele melhor do que lidei com o último.
Museu dos que Já Foram
Há 2 anos
Preciso adicionar uma nota de rodapé. Obviamente o pensamento não é meu.
ResponderExcluirTirei daqui, dessa apresentação engraçada dessa humorista americana:
http://www.ted.com/talks/emily_levine_s_theory_of_everything.html