17/11/2010

Let the Artists Die

A arte foi banalizada enquanto técnica, mas as expectativas sociais que a circundam ainda colocam-na num altar, e procuram as obras primas e os grandes mestres.

Encontramos, sem encanto, grandes mentes podres, sucessos egocêntricos, indústria cultural.

Revelamos numa busca incessante, a grande idiotice que é querer achar num homem o modelo dos demais.

O homem é só homem enquanto tal. Sua arte é sua imagem, seu mundo e sua visão.

Porque há de ser mais importante que a tua ou a minha? Porque é ele digno de figurar entre as grandes obras de um museu?

Que seja o fim da arte emblemática de um tempo. Que morra a busca da obra prima.

Que sejam todos os poemas escritos por todas as pessoas, e que se bastem, sem que tenham de ser a consolidação de um tempo maior.

Mais importante que achar o grande artista, apto a captar e traduzir as angústias e as glórias de nossa época, é achar o artista pessoal dentro de cada indivíduo, que se torne dono das ferramentas estéticas que lhe permitam expressar sua própria incoerência interna.

Apropriemos-nos do direito de encontrarmos em nós, nossa própria subjetividade. Separar a arte da existência humana e conceder sua primazia à "classe artística", é terceirizar a exploração de nossa própria humanidade.

É cultuar as palavras do grande poeta no lugar das nossas próprias. Mas seu poema nunca será de fato o nosso, por mais que queiramos acreditar.

Crer nisso é deixar-se apagar, e transformar-se internamente num reflexo reprimido de um "humano" exterior socialmente consolidado e aceito.

É aceitar o diagnóstico alheio e geral, sem encarar nossas estruturas e símbolos específicos.

É maquiar as dificuldades e entraves da diversidade no caminho de uma vida coletiva.

É criar um falso senso de unidade humana, através da supressão sistemática das subjetividades individuais.

Talvez só esse trabalho interno, a coletivização de todas as subjetividades envolvidas num conjunto social, é que possa nos fazer andar rumo a uma realidade humana de entendimento e cooperação.

Um comentário:

  1. Boa crítica. Concordo contigo. Quem define e o que é arte sempre me instigou bastante.

    E o lance da busca por um modelo, etc, também me incomoda. A arte sempre foi a busca pelo "belo" e este belo é um modelo eleito e consagrado... Só que o que cabe dentro desse "belo" varia, né?

    E também já me questionei sobre os propósitos do artista. O artista quer prestígio, quer ser inovador, quer se comunicar? De uma forma xula, dar ibope para crescer o ego de alguém que eu nem conheço me parece uma tonteria enorme.

    Agora, vc me conhece. Me instiga tentar decifrar qualquer um, mesmo que seja o desconhecido. Mas também me incomoda essa pretensão de ser apto a dar a interpretação "certa"...Sei lá.

    Em uma outra conversa, cheguei à conclusão que a arte estava na relação que se dava entre o artista e o espectador. Essa passividade do espectador também me incomoda.

    Mas, enfim. Fui a um evento perto do Paraíso e o pessoal propôs pintar um quadro em conjunto. Cada um que chegava podia interferir, da forma que quisesse. Achei muito bacana a idéia =].

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