"Não me recordo de ter escrito uma palavra sequer que não fosse verdadeira. A escrita tem a fama de falsear, mas creio ser exatamente o oposto. Na escrita está exposta a estrutura do pensamento, de tal forma que até a mentira que porventura se queira transmitir terá em si mais verdade que qualquer outra forma de linguagem, talvez com exceção da música e da matemática.
O cinema, o quadro, a escultura, estes falseiam, mentem e enganam. Apresentam-se como imagem do mundo ao mesmo tempo em que são objeto dentro do mesmo, parecendo querer nublar a linha entre representação e realidade. A escrita não tem esse poder pois é imaterial, desde sua concepção até a consumação da leitura. Não existe cor, nem forma, nem substância outra que não o pensamento puro, o jogo lógico das frases e parágrafos. É um mundo irreal por natureza, e portanto inevitavelmente verdadeiro em sua proposta.
(...)
Não se pode acreditar que o mundo que se lê seja de fato o mundo, e se por acaso o fazemos, é por vivermos demais nas palavras."
---
Esses três parágrafos me parecem bastante adequados para iniciar a publicação da obra de um pensador que ainda me foge muitas vezes à compreensão. Nos pontos aqui levantados, me identifico de todo com as idéias propostas. Nâo sei encaixar tais parágrafos numa linha cronológica coerente, nem creio ser isso de qualquer importância.
Nenhum comentário:
Postar um comentário