31/03/2010

Dum dia que há de vir

Vê esse monstro na frente dos teus olhos?
Hei de cortar-lhe a cabeça.
Mas não deixarei que leves o meu nome,
ou que cantes em minha glória

A batalha há de ser lutada no escuro,
de forma que nem se note
a violência de seus golpes
Para também que não se leve troféus,
que se esqueça das histórias
e que se possa, finalmente,
viver por um tal presente

;

Eis a dor do poeta que luta
Dum contador de histórias, a eterna sina
Saber ser preciso,
necessário,
imprescindível,
que se queime sua obra maior,
e mais real

Sabe porém ser justamente,
nesse fim indiferente,
que se faz valer como tal

;

É bem verdade que meus golpes
podem não ser suficientes
Mas se engana o poeta que pensa:
"Mato-te, ou morrerei tentando"
Pois aquele que tenta não morre jamais

Cada golpe teu será lembrado
Não por todos;
Bem verdade, talvez por quase ninguém;
Mas de certo pelo próprio monstro
no momento final de sua queda,
a ele, tão inesperada;
a nós, desde já,
assustadoramente tardia,
eternamente adiada.

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