21/06/2010

E eu que nada disse

És pulsativa,
e pulula pelas beiras das sacadas
como se quisesse me dizer alguma coisa.
Mas nada diz.

Olha e sorri
como se tudo tivesse pra dar
e tudo estivesse disposta a receber.
Mas eu, nada digo.

Me passam teus aromas,
teus vermelhos,
os teus dentes e olhares
e o vento em teus cabelos
me faz crer nalgum tipo de magia.

E me passa a tua voz pelos ouvidos
e a tua sombra encobre o sol por um instante.
Um instante de você contra a luz,
da luz contra a tua sombra.
Um instante da tua sombra indefinida,
que é você, não é você,
e que some e dá lugar àquela branca luz do sol.

Luz que explode em meus olhares
desfocados pelas sombras que eu seguia,
que me faz perder de vista,
no clarão insuportável das angústias e das dores de cabeça,
e eu me demoro,
me procuro
e quando vejo
não te vejo mais.

Somes num buraco escuro
como quando me surgiu.
Do nada pro nada,
e de volta pro vazio

Vazio do tempo,
das memórias,
dos meus eus arrependidos.
Que nada dizem.
Nada disseram.
Nunca.

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